AVASSALADORAS RIO - SURRA DE GRAVATA é a coluna quinzenal de ANDRÉ FERRER

AVASSALADORAS RIO - SURRA DE GRAVATA é a coluna quinzenal de ANDRÉ FERRER
Segundo André Ferrer "Amarelas e medrosas" é uma tentativa de "ser menos ranzinza e um pouco mais lírico".

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ele Desceu Do Mundo (Prosa Poética)
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Ele desceu do mundo para viajar na cauda de um piano. Ele desceu do mundo para não mais vestir luto. Ele desceu do mundo para não mais calçar calçados de barro. Ele desceu do mundo para usar como única etiqueta o próprio coração. Ele desceu do mundo para estender as mãos, abrindo-se. Ele desceu do mundo porque não quer mais espelhos sobre as costas. Ele desceu do mundo para não apagar o sopro esfoliante do sonho. Ele desceu do mundo para não mais o firmamento desabar devido a cruzes. Ele desceu do mundo para que os outros corpos da luz não fiquem à margem. Ele desceu do mundo porque fumaça não é fogo. Ele desceu do mundo porque no “pão, pão; queijo, queijo” não há mesa para todos. Ele desceu do mundo já que artimanha é manha &, não, arte. Ele desceu do mundo porque sua mão não mais desce sobre ninguém. Ele desceu do mundo para não podar palavras, suas ou de outros; nem sentar-se sobre elas. Ele desceu do mundo, pois o sapo, no gogó alheio, não se torna um príncipe. Ele desceu do mundo, pois despertares há noutros níveis que principiam sonhando. Ele desceu do mundo após confirmar que o gólgota não passa de um clique na miragem. Ele desceu do mundo enquanto havia tempo. Ele desceu do mundo sabendo que até a cova há sobrepesos a serem perdidos. Ele desceu do mundo, pois o viço da virtude só dá salto quântico através da bendita gratidão. Ele desceu do mundo. por Rafael de Castro

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ode a Arthur


- Arthur como fazer as pessoas me entenderem?
- Impossível, minha cara, sentimentos tem a dimensão das nossas alegrias ou angústias, apenas das nossas.
- Isso me aflige, foram dias de horror, de pensar nela, perdida na mata, à mercê do improvável. Recordava-me, lembro com exatidão, do seu corpo pequeno, seus olhos assustados, cheguei a vê-la maltratada pelo frio, pela fome, tão perdida...
- Mesmo assim, fugiu de você. São assim todos dessa espécie. Cautelosos e arredios, assustados com aquilo que não compreendem e fogem por isso, ainda que a solução esteja a um passo deles. São como nós e contém nossos medos e mistérios, por isso tantos os rechaçam.
- Eu bem os compreendo, só lamento que os da minha espécie – quase todos – não realizem que meus sentimentos, embora tolos pareçam, merecem respeito, pois me atingem, me machucam. Invoco para isso a compreensão pela solidariedade, mas nem isso obtenho.
- Tome como lição jamais esperar do outro a atitude que você busca como amparo ou a que teria para doar. Dói menos esperar pouco dos nossos, o egoísmo faz parte da nossa essência.
- Vou aprender mais essa, na verdade já deveria ter aprendido, são anos viajando por estradas lúgubres e caminhos acidentados. Meus pés estão calejados, é necessário calejar a alma.
- Faça-o imediatamente. Qualquer aprendizado só tem valor quando nos protege de reincidir nos erros.

Assim travei um diálogo imaginário, nem por isso menos proveitoso e eloqüente, com Arthur da Távola. A despeito do quão louca possam me rotular, foi um desabafo solitário de quem resgatou – depois de 10 dias em franca agonia – sua gata persa. Mais alguns dias ela teria morrido e eu me esfacelado em tristezas ímpares e várias.

Terminada a profícua conversa com ele, reli seu artigo “Ode ao gato”, buscando entender o amor e fascínio que esses animais me provocam. Adormeci embalada pelo ronronar da Annouk e minha inquestionável loucura. Internem-me, façam-me objeto de estudo, não me importa. Desde que eu possa levá-la comigo.


CARMEN BENTES

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

VISIBILIDADE EMPRESTADA

“O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano. É o melhor lugar do mundo para acessar a Internet, porque as Lan Houses cobram apenas cinquenta centavos por hora. Galileia trata dessas idas e vindas, mergulhos e retornos nesse mundo suburbano chamado sertão. (Ronaldo Correia de Brito)”

“Eu confiava no meu livro, mas sem expectativa”, declarou o romancista Altair Martins, um dos ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura. “Sou autor de pouca visibilidade”, prosseguiu ele, que leciona literatura em Porto Alegre e tem 34 anos. Mais visível do que nunca, Martins também revelou ter feito uma aposta com o outro vencedor antes da divulgação do resultado. Caso um dos dois ganhasse, pagaria o jantar do outro.

Ronaldo Correia de Brito, escritor cearense, foi o outro vencedor da segunda edição do Prêmio. Seu romance “Galileia” (editora Alfaguara) é o melhor livro do ano. “A Parede no Escuro” (Record) deu o título de melhor autor estreante ao professor gaúcho. Brito e Martins, com ou sem troca de jantares, ganharão R$ 200 mil cada um.


A categoria de melhor livro do ano teve
dez nomes concorrentes; autores como José Saramago (“A Viagem do Elefante”), Moacyr Scliar (“Manual da Paixão Solitária”) e Milton Hatoum (“Órfãos do Eldorado”). Entre os finalistas estreantes no romance, também dez, concorreram o psicanalista Contardo Calligaris (“O Conto do Amor”) e o professor mineiro Marcus Freitas (“Peixe Morto”).

Brito nasceu em Saboeiro, sertão dos Inhamuns, no Ceará, em 1 de outubro de 1950. Mora em Recife desde os 17 anos. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisador, produziu vários textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular e, em 2007, foi escritor residente e professor visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Escreveu os livros de contos “As Noites e os Dias” (1997), publicado pela Bagaço, “Faca” (2003), “Livro dos Homens” (2005) e a novela infanto-juvenil “O Pavão Misterioso” (2004), todos publicados pela Cosac Naif. É autor, ainda, das peças de teatro “Baile do Menino Deus”, “Bandeira de São João” e “Arlequim”. Por sete anos, Brito escreveu a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural (Recife). Atualmente, assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine, do Portal Terra.


Durante entrevista coletiva, Brito afirmou que “desejava” o prêmio, mas não o esperava. “São Paulo é importante para mim, você nem imagina. É uma espécie de destino para todo nordestino.”


“Quando lancei As Noites e os Dias, em 1997, pela editora Bagaço, o poeta Alberto Cunha Melo escreveu que meus personagens são complexamente urbanos e habitam um sertão sem endereço certo, que pode estar em qualquer latitude”, disse Brito em junho na ocasião do lançamento do romance premiado. “Em Galileia (LEIA UM TRECHO DO LIVRO), os primos Davi, Ismael e Adonias procuram reconstruir suas vidas na Noruega, no Recife e em São Paulo, longe do sertão em que nasceram. Por mais que eles tenham se distanciado da violência que ronda a família, voltarão a senti-la de perto, descobrindo que nunca escaparam ao destino que os cerca. O sertão tanto pode significar um espaço mítico como um acidente geográfico. Santo Agostinho perguntava sobre o tempo: o que é o tempo? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam, desconheço. O que é o sertão? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam desconheço. O sertão é abstrato ou real como o tempo. E continuará sendo tema para a literatura. O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano. É o melhor lugar do mundo para acessar a Internet, porque as Lan Houses cobram apenas cinquenta centavos por hora. Galileia trata dessas idas e vindas, mergulhos e retornos nesse mundo suburbano chamado sertão. Sou inteiramente aberto às influências. Não estou nem aí para qualquer tipo de fidelidade.”


Para Antônio Gonçalves Filho, crítico do jornal O Estado de São Paulo, o modo de construção de Ronaldo Correia Brito em “Galileia” é cinematográfico. “Econômico, conciso, cortante, ele reúne os fragmentos da tradição oral e ergue uma catedral literária com os cacos da ruína sertaneja e da tragédia clássica”, destaca.


Em “Galileia”, três primos realizam uma visita emocional ao sertão, numa atmosfera que lembra, em certos momentos, um possível contato recente que se tenha feito com a obra de Khaled Hosseini, “O Caçador de Pipas”. Com o livro nas mãos ou na frente da tela grande: perspectivas, não mais do que isso, pers-pec-ti-vas de uma visibilidade emprestada.

por André Ferrer


Brigitte Bardot - Assista ao vídeo e leia o novo conto do escritor e cartunista Emerson Wiskow

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